Com licença, preciso ser eu mesma!

Um dia tomei um pé na bunda e resolvi colocar o pé na estrada.
Mudei de cidade. Mudei de emprego. Cortei o cabelo e mudei minha vida.

Não tinha muita certeza do que estava fazendo, apenas, sabia que tinha que fazer alguma coisa.

Sempre fui uma adolescente esquisita, dessas que sentam no fundo da classe e que não são muito populares. Acho que era "deslocada", não era bonita, não era engraçada e nem entre os inteligentes eu me incluía, mas me achava super normal. Infelizmente, não era o que as pedagogas da escola pensavam; volta e meia minha mãe era chamada para tratar do meu comportamento, segundo elas, tinha muita dificuldade em me relacionar com os colegas, que era muito "fechada". Minha mãe questionou se era "mal educada" e disseram que não, o problema era que não gostava de me comunicar com as pessoas e quando fazia, era muito "seca". Seca? Nunca entendi...

Na verdade, hoje percebo que era muito madura para minha idade. Ajudava em casa, assumia responsabilidades de adultos (porque queria),  ajudava meus pais com as contas da casa e, desde cedo, sabia o que significava "consumo consciente" (que agora está tão na moda!) e nunca pedia roupas "de marcas" porque sabia que meus pais não teriam condição para isso; tinha cinco filhos para alimentar!


Com quatorze anos terminei o primeiro colegial, passei a estudar a noite e trabalhar de dia, numa escola de educação infantil - Foi o melhor emprego da minha vida! - Finalmente, um lugar onde ninguém me achava "estranha". Eba! Não havia nada errado comigo! As crianças me adoravam e, eu, a elas.

Crianças são sinceras, falam o que pensam, não tem fricotes. Estava, realmente, me sentindo feliz!

Até que um belo dia, tomei um pé na bunda e foi a melhor coisa que me aconteceu.



Chorei por uma semana inteira, curti a maior dor de cotovelo da minha vida!


Deu, chega! Levantei, coloquei a minha melhor roupa, peguei o primeiro ônibus e parti para Porto Alegre.
Uma amiga comentou sobre uma vaga, de auxiliar administrativo, em uma grande loja e lá fui eu. Tinha certeza que a vaga seria minha, afinal, tinha um extenso e rico currículo como educadora infantil.
Cheguei para a entrevista com uma confiança gigante, pela minha petulância parecia que tinha me formado por Havard
Fiquei sentada em uma sala imensa, sozinha, esperando até que chega o "tal" gerente que me entrevistaria. Quando olho para ele, tive a sensação que o conhecia e que aquilo era apenas um reencontro...

-Tens experiência com rotinas administrativas? Perguntou.
-Sim.
-Tem noção de contabilidade?
-Tenho, claro.
-Torce pra que time?
-Internacional.
-Que ritmo de música tu gosta?
-Qualquer uma, desde que seja boa.
- Tua amiga disse que tu desfilou em uma escola de samba. É verdade.
- Ahã. Desfilei, ano passado, na Imperatriz.
- Muito Bom, gostei. Qualquer coisa te aviso!

Tinha certeza que algo muito especial tinha acontecido naquele momento, fora o fato da entrevista ter sido muito "tosca"...kkk
Dois dias depois, bem no dia do meu aniversário, o telefone toca, adivinha quem era? Sim!!! Meu futuro chefe (e marido, alguns anos depois).

No meu novo emprego...
De cara, fiz um monte de inimizades, no meu novo emprego, ninguém gostava de mim.
Não!!! De novo, não!!!
Aprender a rotina até que foi muito fácil, difícil foi mudar a minha maneira de ser.
Estava acostumada com meu antigo emprego, com as crianças, onde podia falar o que pensava sem ter que fazer rodeios ou usar de mentiras para agradar.
As crianças são sempre tão sinceras! Quer ver? Então, faça um teste: Pergunte a uma criança (até uns 8 anos) o que elas acha de você e aguardem a resposta!

Criança conseguem captar a verdade e agem de maneira verdadeira, falam o que sentem, sem fricotes, coisa que, quando nos tornamos adultos, perdemos. No meu caso, não. Continuei infantilmente sincera. Se tinha que falar alguma coisa, não fazia rodeio, falava na lata! Se gostasse da pessoa, tratava bem. Se não gostasse, não dava a mínima pra criatura, ou melhor, até falava: Não gosto de ti..assim, desse jeito! E ainda queria ser amada!
Acho que tinha uma alma "felina". Gatos são assim: ou gostam ou não gostam, escolhem seu dono por afinidade,  diferente dos cachorros que tratam bem quem o alimenta...sei lá!

Fui advertida, por um colega, que se continuasse sendo tão "sincera", dificilmente, faria amigos.
-Como assim, querem que eu minta, então? Indaguei
-Não, querem que tu omita. As pessoas não gostam de ouvir certas verdades e tu tem que respeitar isso. Disse ele, naquele tom tipo: "te toca, guria!"
Não entendi direito, as crianças me adoravam daquele jeito, como que ali era diferente? Mesmo contrariada, decidi que me esforçaria para ser uma pessoa "socialmente normal", afinal, queria "ser amada". Daquele dia em diante, comecei a "vigiar" as minhas palavras e passei a falar o que as pessoas queriam ouvir.

Chegou uma hora que não deu mais. Estava morrendo por dentro, me sentia falsa.
No fundo não conseguia fazer amigos, porque não conseguia confiar nas pessoas - Se elas estivessem agindo da mesma forma que eu, querendo agradar? Será que estavam sendo sinceras comigo ou sendo socialmente educadas?
Não estava em paz, nada mais fazia sentido.
Tentei me moldar, ser uma coisa que não era, pra quê? Pra nada, ou melhor, para cair em depressão, fazer um ano de terapia, tomar antidepressivos, engordar horrores, etc, etc, etc...
Percebi que, se tivesse sido eu mesma, teria sido mais feliz, teria encontrado a minha missão na vida, não teria me castrado como eu fiz.

Se me perguntarem de que me arrependo, posso dizer, sem pestanejar: De ter tentado mudar quem eu sou. Porque nem sequer deu certo!

Hoje, aos 42 anos, voltei a me descobrir e, gostem ou não, sou o que sou.
Digo, sim, o que penso. Faço só o que gosto e quando quero. Sou FELIZ!
Não, não me tornei popular e, também, não tenho um monte de amigos, tenho poucos e sinceros!
E, finalmente, ganhei meu "alvará da loucura"! Estou livre para ser EU mesma.

Por favor, nunca mude sua essência para tentar agradar o outro, você tem que se agradar primeiro.
Seja verdadeiro, que o universo vai te retribuir da mesma forma!
Seja você.
Quem tiver que te amar vai ter que te amar do jeito que você é.
E, quando você estiver bem velhinha, sua consciência vai estar tranquila porque viveu uma vida de verdade, aproveitou  e foi feliz.

beijos e fiquem com Deus!


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